segunda-feira, 17 de março de 2008

Voltar a jogar

via Spectrum


Tomamos conceitos e agarramos palavras, codificamos assim a praxis diaria com termos que se repetem e que de certa forma reduzem a abrangencia da sua influencia quotidiana. Falar de precariedade é falar de recibos verdes e de contratos temporarios, mas nao so. Assim como lutar contra a precariedade nao se fica por lutar contra a flexibilizaçao dos despedimentos. Ampliando um pouco a visao, digamos sériamente que precaria é a vida em que precisamos de pedir para trabalhar.

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Descodificando um pouco mais o fenomeno, vendo onde e como essa estrutura se formou, como ganhou o espaço necessario a sua imposiçao, é bastante obvio concluir que a precariedade, mais do que uma situaçao laboral é uma situaçao de vivencia, omnipresente. Nao é metafisico, na verdade exigimos voltar a viver. Voltar a escolher. A palavra escolher cai aqui bem, toma um sentido de aquisiçao de autonomia, de tomada de decisao. Acima de todas as reflexoes, estamos aqui porque nao acreditamos que a democracia se esgote num preenchimento de cruzes mais pequeno que um totoloto.

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Analizando entao a abrangencia, e tomando como bagagem a sua construçao, olhando para os tempos nao tao distantes em que foi construida a actualidade e a quem calhou bem este afunilamento do debate, da interacçao entre os varios sectores da sociedade, pomos sobre a mesa que foi a propria desagregaçao da organizaçao, a vitoria em ralenti dos valores individalistas, mascarados como economico-liberais (quando na verdade vinham de grupos oriundos das bancadas mais a direita do espectaculo da representatividade), conservadores portanto. Aqui, pelo contrario, organizamo-nos.

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Nao se trata mais de ganhar o debate, agora trata-se infelizmente de ganhar o espaço para ele acontecer. Mais do que tentar ganhar batalhas juridicas nas quais entramos como o elo mais fraco e tendencialmente dependente do mediatismo onde impera o outro lado da barricada, interessa desconstruir a ideia das pseudo-oportunidades, de que esta unica saida, a de um curso universitario na area certa, para a qual ate nos vao alertar com os seus indices sempre tao bem contruidos, é o caminho certo, que é o caminho. Interessa mostrar que essa competitividade que é incentivada desde muito cedo no ensino se transforma em poucos anos numa visao de sucesso individual, numa estrada que se percorre sozinho, na esperança que haja para nos um pequeno buraco, um espaço que ainda nao esteja ocupado, ou em ultimo caso com o nosso trabalho a imperar sobre o dos outros, uma batalha por um lugar confortavel num espaço limitado.Exigimos que se entenda que nao é um lugar ao sol que queremos mas sim o verao para todos. E que, 40 anos depois do Maio que mostrou a praia que ha debaixo do betao, ainda nao paramos para pensar como vamos começar. Interessa construir a nossa Primavera. E continuar...

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