terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Um difuso precariado


A recente tomada de posição da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social sobre a situação do país não traz nada de novo, faz antes eco das muitas coisas que se tinham vindo a dizer nos últimos anos. Pior do que isso, não toca na questão do precariado crescente, que aumenta de forma "corrosiva" esse tal "difuso mal estar" da nosso tecido social.

Importa fazer alguns esclarecimentos, nunca de somenos, numa altura em que o próprio precariado representa uma alternativa dinâmica e positiva dos movimentos sociais que não se encontram representados de forma conveniente na estrutura social de hoje, coisa aliás que não é nova e que o texto da SEDES vem ampliar.

Voltamos a dar a tónica que os responsáveis públicos que têm assumido os papeis decisórios no país são os maiores responsáveis pela situação que vivemos. São eles os executores da falta de liberdade, transparência e geradores de "amiguismo" e corrupção. Afinando pelo mesmo tom, o tecido económico segue-lhes o exemplo, com patrões cada vez mais insensíveis aos direitos sociais dos trabalhadores e onde a arrogância se junta à ganância e ao "posso, quero e mando". A moda é perseguir os trabalhadores, mais ou menos qualificados, e torná-los bode expiatório de um sistema montado para falhar, apenas, unicamente, para aumentar a precariedade como alavanca para o crescimento dos lucros de poucos.

Voltamos a referir que há cada vez mais precariedade com os "falsos recibos verdes" e outras formas de contratação precária. Defende-se a economia, a empresa e o empreendorismo empresarial passando para última prioridade as pessoas. O resultado óbvio é a degradação das condições da maioria e o aumento colossal dos dividendos recebidos por gestores, administradores e accionistas.

Chamamos a atenção para o facto de as instituições do Estado fazerem "ouvidos de mercador" na relação com uma juventude cada vez mais desmotivada a participar na causa pública. O afastamento dos jovens e da população em geral dos centros de decisão, do poder público, gera a desmotivação e desacreditação em qualquer mudança. Por isso, é absolutamente lógico a crescente onda de emigração de quadros formados. Esta é uma realidade que ninguém ousa discutir e este facto é talvez dos mais curiosos quando tanto se fala de modelo de financiamento do ensino superior e de autonomia das faculdades.

Portugal é o país onde alguns nem se dão ao trabalho de cumprir a lei, sabem que não lhes afecta. Outros, conhecem sobejamente o rigor dos tribunais ou das finanças. Há dois pesos, e duas medidas. Um tecido social, cada vez mais individualizado, porque afastado dos colegas em relações de trabalho e de vida de curta duração. Um tecido social desmotivado e descrente na mudança porque se sente longe de poder influenciar o que quer que seja da sua própria vida.

Mas uma coisa é certa, o MAYDAY tem sido um dos exemplos de um debate aberto, plural e dinâmico que gera mudança e sobretudo retoma a esperança numa sociedade melhor. E não apenas pelas mãos do MAYDAY, mas de muitas outras pessoas, alguns dos decisores responsáveis mais arrogantes que tivemos, foram obrigados a recuar pela força da razão, da união e da força da opinião e capacidade de organização.

Este é o MAYDAY que queremos e que teremos.
André Soares e Rui Maia

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